Eurico Carrapatoso - Ó Serpa
https://carrapatoso-eurico.weebly.com/ UNF Chamber Singers Maestrina: Dr. Cara Tasher Primavera de 2015, St. Paul's by the Sea, North Florida, EUA Ó Serpa - pequena nota A melodia Ó Serpa estava agachadinha à minha espera na página 121 desse livrinho fatal de Fernando Lopes-Graça, A canção popular portuguesa, 2ª edição remodelada e ampliada das Publicações Europa-América, Colecção Saber. Corria aquele Maio quentíssimo de 1974. Mas viria a olhar para a melodia, já com olho clínico, em Dezembro de 1998. Lá estava eu, todo lampeiro, mais parecendo um tralhão, a mirar a formiga-de-asa. Mirei-a dum lado. Mirei-a do outro: "Aqui tens meu coração, Se o queres matar, podes; Olha que estás dentro dele, Se o matas, também morres." Esta sinceridade desarma. De coração nas mãos, o maior de todos os sóis, que é o sol maior alentejano, resplandece no seu arco descendente: assim arrastado, assim vagaroso. Cedo senti a insinuação do modo mixolídio (que carícia harmónica, a da tónica maior com dominante menor!), mais a sua extrema nostalgia, que é a nostalgia do tempo antigo e mítico da planura setentrional. Foi assim que harmonizei um dos poucos nacos de música – a par do "Ó meu Menino" de Pias, ali ao pé de Beja - que não negoceio. Vi claramente visto o lume vivo daquele que é, para mim, um primado essencial: as melhores soluções nem sempre têm de ser as mais complexas. E isto, apesar do resultado poder, não raro, como parece ser o caso, induzir as mais complexas emoções. Eurico Carrapatoso, 19 de Julho de 2011
https://carrapatoso-eurico.weebly.com/ UNF Chamber Singers Maestrina: Dr. Cara Tasher Primavera de 2015, St. Paul's by the Sea, North Florida, EUA Ó Serpa - pequena nota A melodia Ó Serpa estava agachadinha à minha espera na página 121 desse livrinho fatal de Fernando Lopes-Graça, A canção popular portuguesa, 2ª edição remodelada e ampliada das Publicações Europa-América, Colecção Saber. Corria aquele Maio quentíssimo de 1974. Mas viria a olhar para a melodia, já com olho clínico, em Dezembro de 1998. Lá estava eu, todo lampeiro, mais parecendo um tralhão, a mirar a formiga-de-asa. Mirei-a dum lado. Mirei-a do outro: "Aqui tens meu coração, Se o queres matar, podes; Olha que estás dentro dele, Se o matas, também morres." Esta sinceridade desarma. De coração nas mãos, o maior de todos os sóis, que é o sol maior alentejano, resplandece no seu arco descendente: assim arrastado, assim vagaroso. Cedo senti a insinuação do modo mixolídio (que carícia harmónica, a da tónica maior com dominante menor!), mais a sua extrema nostalgia, que é a nostalgia do tempo antigo e mítico da planura setentrional. Foi assim que harmonizei um dos poucos nacos de música – a par do "Ó meu Menino" de Pias, ali ao pé de Beja - que não negoceio. Vi claramente visto o lume vivo daquele que é, para mim, um primado essencial: as melhores soluções nem sempre têm de ser as mais complexas. E isto, apesar do resultado poder, não raro, como parece ser o caso, induzir as mais complexas emoções. Eurico Carrapatoso, 19 de Julho de 2011